29 de setembro de 2009 | By: Rita Seda Pinto
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O caroço (uma poesia da minha infância)

O caroço
Bastos Tigre Uma poesia da minha infância

Eu comi ontem no almoço
A azeitona de uma empada.
Depois botei o caroço
Sobre a toalha engomada.

Mas mamãe que tudo nota
Me ensina com carinho:
O caroço não se bota
Sobre a toalha, meu benzinho.

Toda pessoa de linha,
Educação e recato,
O osso, o caroço,a espinha,
Põe no cantinho do prato.

E eu, depressa lhe respondo:
Mas mamãe, repare bem,
Meu prato é todo redondo,
Cadê cantinho? Não tem!

29/09/2009
23 de setembro de 2009 | By: Rita Seda Pinto

Ipê criança

Isso que é impaciência, dona Rita! Deixa o pobre coitado viver a infância serenamente!!!




Ipê criança

Ipê menino,
Ipê criança...
Olhe para seus irmãos:
Todos floridos,
exalando estonteante perfume
e dourando copadas e gramados...

Só você está verdinho, verdinho,
Sem saber que é hora de se despir do verde
E se cobrir de outra cor!

Ainda não deves saber!
A mãe natureza espera o momento certo
Para lhe dizer...

Mas eu sou impaciente, meu ipê criança!
Eu plantei você e acho que já é hora,
Sabe de que?
De lhe contar que você tem uma cor diferente da deles...
Você, meu ipê menino
Tem nas flores a cor branca do véu de Maria.

Vê se acorda, vê se cresce,
Estou ansiosa para ver você,
Ipê menino, recoberto do mais puro branco
E perfumado véu de Maria...
A primavera está aí!


Tapera

Tapera...
Rita Seda

Você passa pela estradinha sinuosa, sem calçamento e quase não olha para mim. Já se acostumou com minha presença ...Com minhas paredes arruinadas, meu telhado arriado, telhas e telhas caídas e quebradas. Minhas pequeninas janelas fechadas, mostrando um restinho de tinta azul...Se observasse veria que pés de fumo e outros vegetais que germinaram espontaneamente tomando conta do espaço que era quarto,cozinha, sala... Eu sou um amontoado de tijolos, telhas e madeiras podres, expostas ao tempo e faz tempo... Se parasse e entrasse, ou apenas olhasse para dentro de mim, veria o velho fogão de lenha, também carcomido pelo tempo, mas seus restos choram por mãos que um dia ali trabalharam fazendo o alimento de uma família. Fervendo o leite para a mamadeira do pequenino, o café e a merenda do esposo, de saída para a roça. Ou a marmita, ainda à luz da lamparina, para que ele comesse no serviço. Já tive uma sala, quartos, onde viveram momentos de felicidade marido, esposa e filhos...Momentos de carinho, de apreensão, de doença, de nascimento, de visitas, e do fim de um amor. Fim sem tragédia, sem briga, sem despedida. Embora dolorido pela traição. Abandonaram-me. Um para um lado, outra para outro lado, com os filhos... Deixaram para mim as camas, as roupas, mesas, cadeiras, prateleiras, pratos e panelas. Até o crucifixo ficou pendurado numa das minhas paredes, ao lado da foto de casamento. Nunca mais ninguém voltou, sequer para fechar a porta, que ficou escancarada e o vento fechou apiedado da minha dor.
Nada levaram. O tempo e os bichos estão destruindo tudo, Até eu... Sou uma casa fantasma que leva o estigma da traição. Um deslize que tudo encerrou, quase sem discussão. E eu? Ninguém me quis, ninguém voltou aqui, que fiz de errado? Eu, com eles, era tão feliz! Preferia que me desmanchassem, plantassem flores neste meu lugar, deixando de existir, cairia no esquecimento total, nem meus tijolos se lembrariam mais que um dia eu existi.

Quimera

Quimera

Eu vi o sol nascer sem ajuda alguma.
Seus raios brilharam e clarearam a terra.
Tudo que havia estava à mostra, escancarado,
E eu pensei: que lindo!

Ouvi do bem te vi o canto animado...
Bandos de maritacas voando apressados
E gritando, matracando, tudo acordando.
E eu achei tudo aquilo lindo!

Despertas pelo alarido, de passarinhos aos bandos,
os ares cortando, como ágeis flechas
gritou a siriema que quebrou três potes
e eu me encantei por tudo aquilo lindo!

Olhei o Ipê e o vi quase desnudo,
se preparando para se cobrir de ouro
e reinar por sobre o campo ora tão seco.
E eu pensei que o amanhã é lindo!

Das coisas lindas que acontecem hoje
em devaneio podes ver o amanhã...
Se isto é sonho, quimera, não entendo,
mas tenho certeza: tudo ficará mais lindo!

Transparência

Transparência
Rita Seda


Sempre tive comigo uma filosofia de vida: ser transparente. Existe um ditado popular que diz:”Prefiro ficar vermelho um minuto do que roxo o resto da minha vida.” É nele que sempre me baseei. Não sabia bem o que é mais difícil, guardar as mágoas num compartimento sem chaves, do coração, ou resolvê-las na hora. Eu optei pela segunda. Se for para mostrar minha decepção eu mostro, se for para pedir esclarecimento eu peço, se for para pedir perdão eu peço.
Considero que é o melhor para mim, para dar-me a paz de consciência, que preciso, para continuar na presença de Deus, não ter que lutar para esconder-me dele, quando tenho mágoa ou vergonha. Ele vê tudo, é certo, mas tenho que ter um diálogo franco para que possa estar em paz quando me lembro que Ele me percebe sempre.
Se for preciso chorar eu choro, se é hora de rir eu rio,
Se precisar falar uma verdade eu falo e se for hora de ouvir uma reprimenda eu procuro ouvir e vestir a carapuça, como mamãe me ensinou. Afinal, por mais que a gente queira ser correta, sempre comete algum deslize.
O que considero burrice das grandes é guardar um sentimento e ficar acalentando o mesmo naquela gavetinha sem chave, acumulando mais dor, até que ali não caiba mais e então, sair distribuindo bordoadas sem sentido, por algo que não ficou esclarecido. Ressuscitar sentimentos não é o meu forte. Vivo cada momento com sinceridade e em intensidade, para que não venha a fazer mal a mim e a outros.
Mesmo assim, o coração é uma caixinha de surpresas e ainda posso, em conseqüência de uma reflexão mais detalhada, numa sessão de análise, ou diante de um fato novo, sofrer uma reação indesejada. Fico imaginando como seria minha velhice se eu deixasse todos os acontecimentos da minha vida sem solução na hora. Eu certamente viraria um bicho!
11 de setembro de 2009 | By: Rita Seda Pinto

Lírios ou borboletas?

Plante um jardim! Além das belas flores você terá abelhas, passarinhos e borboletas.
E cores, movimento, mel e melodias!!!

Lírios ou borboletas azuis? Rita Seda


Amo os lírios, elegantes,
que aparecem tão lindos,
hastes e folhas esguias,
e as flores fascinantes!

Brancos como a pureza,
róseos claros e escuros,
lilases e alaranjados,
não há como ignora-los...

Mas, que vejo? Mil lagartas
nojentas e gulosas,
comendo flores e folhas!
Nada sobra dos meus lírios?

Não conte nada a ninguém,
Mas já pisei lagartas, matei,
espirrei jatos de veneno...
Com raiva do atrevimento!

Perdi a parada, nada sobrou
dos meus lírios perfumados.

Dias depois, não sei o tempo!
Miríades de borboletas azuis
executavam seu balé em outras flores...

Só então eu percebi:
foi mera metamorfose...
As flores que devoraram
se tornaram borboletas...

Os lírios? Voltaram um ano após
para virar jóias aladas de novo!!!
9 de setembro de 2009 | By: Rita Seda Pinto

Briga de cão(zarrão) com gato preto


A pequena rua era uma anarquia só. A anarquia só não era maior porque o local nem era uma rua...era um beco!
Adultos e crianças gritavam ;o cão latia e o gato parecia eletrizado, os pêlos eriçados. Corria que nem doido, de um lado para o outro perseguido pelo cão e por uma mulher. O trânsito teve que parar na rua onde desembocava o tal beco de tanta gente curiosa que se juntara.... E, é claro, todos torciam pelo bichano e por aquela pobre mulher, enfrentando um cão enorme para salvá-lo. Alguém trouxe uma vassoura, mas esta quebrou, quase que imediatamente. Outro trouxe uma enxada, mas não pensava em acertar o cachorrão com a lâmina, sabia ele quem era o dono? Um animal bonito daquele devia ter um dono que o estimava... Outro trouxe água para espantar o gato. Errou a mão e caiu no cachorro. Só não foi mordido porque o animal estava muito ocupado, mas que recebeu um olhar comprometedor, garanto que recebeu. Foi para casa com a desculpa de guardar a lata dágua e lá ficou, se resguardando. Uma pobre coitada, para ajudar a vizinha, tentou passar-lhe um pedaço de madeira, mas ao fazê-lo levou uma mordida na perna que tirou-lhe um bom pedaço da roupa. Não sei se feriu a perna, mas pelo menos arranhar deve ter arranhado. Essa também , nocauteada pelo cão ,foi para casa, onde, além do mais recebeu uma reprimenda do marido que achava um verdadeiro absurdo entrar em briga de gato e cachorro...
O gato, embora pequeno, parecia um saci, enfrentando o cachorro e fugindo da mulher que queria salvá-lo . Não lhe dava a mínima . Só tinha olhos ouvidos , dentes e pernas para a briga.
Que estava interessante ,estava .Pelo menos era algo fora do comum naquele pedaço de chão onde quase nada acontecia durante o dia. À noite, aí a coisa já é diferente... O próprio nome do beco era efeito dos acontecimentos noturnos: beco do beijo. Mas, são passados tantos anos...Agora o nome até que merecia ser trocado, pois, quem se contentava em ir para o beco beijar?
Ora! Estou desviando o assunto e o assunto é a briga. E briga relâmpago : tudo passou em poucos minutos. A pobre mulher, suada, descabelada e vermelha, não conseguia pegar o gatinho e este já atingira o inimigo num olho, que sangrava. Mais enfurecido e, quem sabe? humilhado, ficou .o cão. Já nem latia, apenas atacava com a boca enorme, cheia de dentes da qual pendia uma língua arroxeada e enorme..
Foi então que uma garota de uns seis aninhos abriu uma janela da casa defronte e gritou bem alto:
_Mamãe, pra que você quer esse gato?
A pobre, esbaforida, olha para sua filha e a vê com o gatinho preto nos braços, toda tranqüila. Para a mãe deve ter sido um alívio, mas sua cara demonstrava muito mais espanto do que qualquer outra coisa.
Apenas disse, sem se dirigir a ninguém:
_Ué, este não é o meu gato, então!!!
E saiu cabisbaixa para sua casa.
Parece que a dona do espetáculo era ela, pois o gato aproveitou a brecha e pulou um muro e o cachorro, sem mais nada para fazer ali , botou o rabo entre as pernas e sumiu.

Agapantos

Agapantos

Só tinhas folhas...
Bastou uma chuva
(E nem foi tão farta...)
Para que tu, meu caro agapanto,
Fizesses irromper das entranhas
Teu botão elegante,
Parecido a uma lança,
Que num instante cresceu,
Doidinho está para se abrir
Em minúsculas florinhas
Roxas, azuis ou brancas...
Pra encantar o jardim.

Sem nenhum esforço teu,
Sem ajuda de ninguém,
Sem soprarem-te ao ouvido:
“é hora”! o milagre aconteceu...
Às vezes quedo-me assim
Observando a natureza
E o ritmo que Deus lhe deu.
A seu tempo tudo é vida,
Beleza, arte, esplendor.
Apenas isso não ocorre
Quando o homem, inconseqüente,
Põe seu dedinho ali...

Rita Sêda Pinto 14/10/2001
5 de setembro de 2009 | By: Rita Seda Pinto

Bisavós corujas...


Yasmin é a bisneta que aparece na foto. É a alegria de nossa vida...

Retalhos de uma vida

Retalhos de uma vida
Rita Seda

Uma colcha de retalhos se faz com um pedacinho deste, outro daquele, daquele, outro... Cores variadas, alegres, estampas de flores, de bolinhas, estrelinhas, listradinhas, variadas! E o efeito final demonstra a arte latente no coração de quem o fez.
E vai vestir a cama com grande charme.
Na vida da gente vemos uma porção de retalhinhos também. Uns grandes, outros menores, uns coloridos, outros desbotados como dia sem sol. A vida alinhava com destreza nossos retalhos. Ela não para de costurar. Não usa tesoura, nem usa agulhas, mas emenda que emenda e nosso tecido vai ficando cada dia mais parecido com a colcha de retalhos.A grande diferença é que nos retalhos da nossa vida não há nenhuma simetria. Diferentemente da colcha não há um retalho igual a outro. Cada um mostra-se diferente, mesmo quando aparecem as mesmas personagens. Mudam as fisionomias, as posições, as brincadeiras, as emoções...
Cenas de dor são menos freqüentes que as cenas de descontração e alegria. Retratos de viagens, saudade de quem está ausente, de quem se foi e agora é só um retalho orvalhado de lágrimas na grande colcha da vida. Cenas de sofrimento, desilusão, ao lado de cenas coloridas de gargalhadas e abraços, carinho e abnegação. Esta, do aniversário, comparo à das estrelinhas da colcha da cama. A bem florida é com certeza cópia do nascimento de algum filho. Flores e cores. Pranto e riso se misturam e formam a combinação perfeita. Das traquinagens me recorda as bolinhas e as bolonas! E este abraço, meu Deus, parece o retrato de um anjo salvando de um perigo...As paisagens coloridas e brilhantes dão um toque especial, mas ao seu lado um buraco engole casas e carros e pessoas. Dá, certamente, arrepios. Outro retalho, com um grupo tão feliz respira riso e canto! Não falta ninguém querido, está completo. Será que a trama ficaria melhor repetindo apenas este retalho? Afeto, carinho, é tudo que o faz vibrar! Paro, penso, vejo outros e concluo: na trama da vida há de se ter as cenas variadas, para que haja mais sabor, perfume,beleza, encanto e, assim, seja completa. É complicada de se ver e entender, mas o viver, garanto, o ter vencido, foi bom demais.