9 de fevereiro de 2010 | By: Rita Seda Pinto

Exames invasivos

Depois que passa é até divertido, a gente ri!!! Mas durante, ai,ai...

Exames invasivos


Rita Seda



A medicina teve um avanço grande nos últimos tempos.

Na minha vida acompanhei duas endoscopias em pessoas amadas. Uma, distante da outra, trinta anos. Notei que ela mudou o procedimento, teve, sim, pontos positivos, mas...Vamos ao mas!

Na primeira eu era a responsável pelo procedimento em meu irmão querido, o Pedrinho e estava sozinha, em São Paulo para o que desse e viesse. Eu tinha trinta anos menos. Mesmo com uma dose maior de coragem, tendo que inventar algumas mentiras ao irmão, para poupá-lo, foi um grande sofrimento para ele e para mim.

Submeteu-se ao exame em pé, sem anestesia, num consultório médico. Certamente com instrumento de maior dimensões do que os de hoje. Estava ao seu lado, segurando sua mão. Sua perna direita tremia e eu derramava lágrimas silenciosas. Ele e eu querendo ser fortes para não entristecer o outro. Eu chorava, sim, mas escondido. Bobagem, agora, também, eu chorei tanto! Chorar não é fraqueza nem vergonha. Chorar alivia o peso que se instala em nosso coração numa situação assim.

A endoscopia de agora foi no meu esposo. O pedido veio de véspera, à tarde, não havia tempo para pedir a companhia de um filho. Sozinha outra vez. Tive que pedir socorro ao meu fisioterapeuta, a pessoa mais próxima no momento mais difícil, o da execução. Só queria chorar, colocar para fora minha ansiedade. Ele foi superbacana comigo. Obrigada, Maurício!

Quando Ivon saiu da sala de exame e veio para a sala de recuperação, chegou ainda dormindo. Incrível que não tenham para esse fim uma sala decente. Numa pequeníssima sala, uma porta com saída para a rua, duas poltronas reclináveis e um sofá simples. Já havia um jovem dormindo a sono solto numa das poltronas. Colocaram Ivon na outra e levaram para o exame um idoso de aspecto bem simples, sem acompanhante. Reclinaram a poltrona para o Ivon dormir. Não só dormiu, como roncou e falou coisas desconexas. De correto ele perguntou ao médico se iam fazer bióxia, em casa, disse-me que não viu o médico!

Chegando à sala o idoso, colocaram-no sentado no sofá, desconfortável para seu sono. Que vontade de estende-lo no sofazinho! Dentro de meia hora chamei o táxi para trazer-nos para casa, pois o Ivon parecia acordado. O motorista, muito gentil, conduziu-o ao carro, sentou-o no banco da frente. Ivon apanhou uma bala de menta, desembrulhou-a e disse: Nada como uma balinha para refrescar a garganta! Dei um pulo de meu banco e tomei-lhe a bala, já sem papel e disse-lhe que não podia. Aceitou numa boa. Chegando em casa o motorista colocou-o na cama, ele ainda quis pagar, mas eu já havia pago. Já dormindo ele reclamou que a calça e cinta o incomodavam para dormir. Queria um short. Com sua ajuda tirei-lhe os sapatos, as meias, desabotoei a cinta, tirei-lhe a calça e coloquei o short. Quem estava dormindo, continuou. Deixei-o ali e fui cuidar de alguns afazeres. De vez em quando dava uma olhadinha... Levou umas três horas para acordar, mais e mal, e quando se viu sem calças, reclamou e não acreditou que me pedira para tirar. Da bala? Nem se lembrava, nem do rosto do médico, nem do que falou para este, nem quem o trouxe para casa. Tudo ficou num cantinho escondido da memória. Bem que eu tenho um medo enorme de anestesia...

Tomou uma canja e muito bem. Até repetiu o prato fundo!

Tentou levantar mas tornou a dormir profundamente.

Mais tarde acordou perfeitamente e foi para a Missa, no Santuário, onde eu já me encontrava. Deus seja louvado!

Minha queixa é que poderiam ter explicado bem claramente o procedimento e a reação do paciente. Já não estou em idade de ter essas surpresas...E providenciar um aposento decente onde os examinados pudessem ter algum conforto e privacidade.