30 de março de 2011 | By: Rita Seda Pinto

Árvore no meio da rua





Dia destes, pela Internet, recebi fotos e frases de Portugal, com a intenção de provocar risos e caçoadas. Entre as fotos, uma que poderia se dizer que é de nossa terra, feita em uma da nossas ruas... Lembrei-me do carinho de nossos concidadãos pela “sua” árvore e resolvi prestar uma homenagem a ela e a eles...Na terra das Sapucaias há uma peculiaridade vegetal no mínimo curiosa: uma grande árvore no meio da Rua João Renó. Bem em frente da casa que Tonhão construiu e viveu muitos anos. A rua não é larga, é comum como quase todas as ruas da cidade. Ao passar por ela, de carro, só cabe um de cada lado da tal árvore. Tonhão, contou-me que ali era um local cheio de vegetação. A rua foi espichando para abrigar mais casas e a vegetação foi sendo sacrificada. Mas era tão linda aquela árvore que as serras não ousaram tocá-la. A rua continuou seu itinerário rumo ao desenvolvimento, casas e mais casas construídas. Veio o calçamento, foram construídas calçadas para os pedestres, mas a árvore permaneceu firme onde nascera. Foi feita uma proteção em volta de seu tronco e plantadas flores. Contou-me que já foram celebradas missas sob sua copa, celebrando algum fato notável para a vizinhança, o que aumentou ainda mais sua importância para eles. Claro que já houve o perigo de cortá-la. O ato só não foi consumado porque os moradores se opuseram com forte clamor. Ela faz parte da paisagem. Ela tem vida e dá vida, em forma de beleza, oxigênio, sombra e companhia. É reconhecida, admirada e amada não só pelos vizinhos, pássaros e borboletas, pelos habitantes da comprida rua, mas também pela maioria dos cidadãos, que quando se referem a algum morador ou loja daquela rua, vão logo dizendo:-É antes (ou depois) da Árvore! Ou ainda:- Fica pertinho da Árvore! É dignificante observar tanto amor a uma árvore, respeitada, embora esteja fincada no meio de uma via pública, quando tantos sacrificam outras, em locais onde não atrapalham em nada o cidadão. Mas acontece. Certa vez uma empreiteira que trabalhava para a companhia energética, com a desculpa dos galhos estarem quase atingindo os fios de eletricidade, sem nos comunicarem, invadiram nossa chácara e cortaram nossos ipês novinhos, os da beira da cerca, onde havia o perigo de atrapalhar a rede. Não satisfeitos, cortaram outras árvores, que nada atrapalhariam. Bem, as árvores tinham sido plantadas antes dos fios. Como poderíamos adivinhar que colocariam os postes do nosso lado? E não tinham obrigação de antes, falar conosco? Nessa gracinha cortaram um pé de ipê branco que eu nunca mais consegui muda. Coisa da vida! Tiramos fotos, demos queixa à companhia eletrificadora, que, é claro, eximiu-se de culpa e culpou a empresa contratada por ela. Em cidades grandes e capitais tenho visto árvores debaixo da fiação elétrica, podadas para não tocarem os fios. São verificadas de tempos em tempos. Atitude corretíssima. A árvore não raciocina. Se ela causa acidente é por culpa de quem tem a responsabilidade de cuidar. Lembro-me que cantávamos no primário: -Salve ó árvore bendita, que dás fruto, aroma e cor... Parabéns, moradores da Rua João Renó por seu respeito `a natureza! E parabéns a Portugal, não sei se seguiu o exemplo ou se o deu aos nossos conterrâneos, mas que é lindo, garanto que é!

Tempo de pinhões

Tempo de pinhões
Rita Seda

Hummm! Que delícia... Já podemos encontrar pinhões no mercado. Já é a segunda semana que trago, lá da Rita, Casa de Frutas Santa Rita. Eu escolho bem, vou separando os mais gordinhos para trazer... Cozinham que é uma beleza! Aí, é hora de comê-los com açúcar, em farofa, refogado, enfim, deliciar-me com mais esse presente de Deus. Mamãe e Pedrinho são minha referência para comer pinhão. Após o almoço, ela trazia um soquete de ferro, ajeitado,e ia macetando com ele os pinhões cozidos. Pedrinho preferia comê-los sem nenhum tempero. Mamãe também. Eu não dispensava o açúcar. E ali a gente ficava, sentados na grande mesa da cozinha, jogando conversa fora e devorando os pinhões. Entrava e saía safra e nós, sempre fieis ao ritual. Não é à toa que até fiz mudas e plantei pinheiros. Levaram mais de trinta anos para dar suas pinhas, só no ano passado começaram, timidamente a produzir. Já ando rondando o local. Mas o importante mesmo é a beleza das árvores, seu verde brilhante, as ramas agressivas, que ferem quem nelas encosta. São muito boas para acender o fogão de lenha... Na zona rural são usadas para pelar porco. Sempre que vou a Aparecida, neste tempo de pinhões, aproveito para trazer alguns, daqueles que os meninos ficam vendendo no bar da Barreira. Os de lá têm um sabor especial. Afinal, os pinheiros preferem as montanhas! Certa vez, numa romaria da Sociedade São Vicente de Paulo, tendo ido de carro, demos carona, na volta para umas amigas, entre elas, Luzia Silvério. Paramos num ponto de vendas -desses que vendem tudo na beira da estrada- e entre outras coisinhas separamos muitos saquinhos de pinhão, que fomos escolhendo e colocando no chão, atrás do carro para que o Ivon os colocasse no bagageiro. Quando aqui chegamos e cada um foi pegar seu pinhão, surpresa! Tínhamos deixado no chão, lá na serra... Quem mandou ser lerdos, né? Mas o caso ficou gravado na memória...Sempre que nos encontramos e comentamos, damos boas risadas!

Doentes e doenças

Doentes e doenças
Rita Seda

Dias atrás andei pensando em quanta razão tinha a minha mãe.Ela lutava contra a doença e vencia sempre. Surpreendia médicos e família com a sua pertinácia. Naquele tempo a medicina não tinha a tecnologia de hoje, a pessoa não precisava se preocupar tanto com “sua” doença... Certa vez, já idosa, às voltas para ordenhar uma cabra, enroscou-se na corda que prendia o animal, caiu e quebrou o osso ilíaco, quebrou a bacia, como se falava. Minha mãe se recusou a fazer uma radiografia no hospital local. Ela era teimosa, pensava que não precisava. Meu irmão, o Pedrinho, preocupado, chamou Dr. Clemildes, de Pouso Alegre, que trouxe um aparelho de raio-x portátil e tudo ficou resolvido. Além do medicamento para tirar a dor não havia procedimento para ajudar a cicatrização do osso, a não ser, repouso. Quem a conheceu sabe que ficar parada era o maior castigo. Ficou quietinha alguns dias, havia só eu e Pedrinho em casa, a gente vigiava. O Zé Seda, que morava bem perto, também ajudava na vigilância. Certo dia, baixamos a guarda um pouco e quando notei ela estava andando, escondido de nós, empurrando uma cadeira, como se fosse um andador. Avisado seu médico, o competente e muito dedicado Dr.José Alencar Viana, veio imediatamente, examinou-a e mal disfarçando um sorriso nos disse que nossa mãe era excepcional, que deixássemos que ela experimentasse as melhoras de vez em quando... Animada, ela continuou a exercitar-se e logo largou a cadeira e andou desinibida... Aquela soube ser forte e corajosa!Minha mãe nunca foi uma doente. Teve, sim, doenças...

Amar e ser amada

Amar...e ser amada!
Rita Seda


Uma das mais gostosas coisas deste mundo é sentir-se amada. Sentir que alguém (quantos mais, melhor...) tem a gente no coração, pensa em nós, preocupa-se conosco... Aquele abraço apertado dos encontros, um simples olhar e perceber que o sentimento ali está. Uma conversa que rola mansa e que tem, algumas vezes, cochichos de segredinhos. Ou um puxão de orelhas, que de tão delicado, mais parece um afago. Nada neste mundo, a não ser o Amor de Deus, é mais agradável. Quem tem amigos assim, tem tudo no mundo. Existem pessoas que tem tal afinidade com a gente que até adotamos como filhos. Rimos com elas, choramos também, rezamos, (quem não precisa sempre de uma oração?), enfim estamos ligadas. Porque sentir-se amada é mais ou menos assim: não se sentir comparada, entender que cada um tem as suas características, pois é nessa diversidade que o mundo fica tão bonito! Sentir-se amada é ser erguida em nossas quedas e nem por isso sentir-se humilhada. Sentir-se amada é não se apegar a êxitos e nem mesmo correr atrás deles, entender que o seu brilho é tão momentâneo, que se a gente o valoriza demais, é capaz de estacionar na vida para usufruí-lo e então... nunca mais realizar nada! Sentir-se amada é perceber que quando o amor chega até nós, a mente ruidosa com as banalidades do dia a dia, enche-se de sinfonias celestiais. Sentir-se amada é sair de um sentimento de raiva para um sentimento de compaixão por quem provocou o sentimento negativo, pois cada um dá o que tem! Por aqui vimos que para se sentir amada não se precisa de muita coisa. E se a gente não conseguir sentir-se amada pelo irmão, acredito eu, nunca chegaremos a nos sentir amados por Deus. Então, a coisa pega! Vamos abrir o nosso coração, de verdade, ao AMOR? Amar para sermos amados!
21 de março de 2011 | By: Rita Seda Pinto

Arco-iris

Arco-iris
Rita Seda

Retornando da chácara, num domingo, numa curva da estrada deparamos com um belo espetáculo: um duplo arco-íris. Parecia tão próximo da gente, saído do meio de uma capoeira, alcançava o outro lado do monte fazendo aquele arco perfeito no céu. Que compasso seria capaz de traçar algo daquele tamanho? Ivon, que sempre carrega a câmera, desceu para eternizar aquela maravilha, em fotos. Continuando o caminho paramos mais duas vezes, pois a cada curva a visão parecia mais formosa e chamativa. Parecia uma criança tentando segurar o seu brinquedo. Nos olhos, o mesmo brilho dos olhos da criança diante dum brinquedo novo. Só faltou sair correndo e ir ao pé do arco-íris buscar o pote de ouro... Há tempos eu não via esse fenômeno que resulta da combinação de dois elementos naturais, o sol e a chuva, com as cores tão nítidas e brilhantes. A luz do sol é separada em seu espectro quando ele brilha sobre gotas de chuva. Algo natural, mas tão fascinante que já inspirou poetas, músicos, pintores. O artista é capaz de captar o que lhe oferece a natureza, que, fora do domínio da cidade, tem um tal esplendor que dá vontade de ficar sempre ali.Tão fascinante e tão fugaz! Quando eu era criança gostava de regar o jardim para “criar”arco-iris.Procurava os melhores ângulos e, de mangueira em punho, ia esguichando a água onde batiam os raios de sol e aparecia o espetáculo colorido.Momentos de inteira felicidade... O mesmo acontece com as noites estreladas, enluaradas, os vagalumes piscando sua luzinha azul, confundindo-se com estrelas, o coaxar dos sapos e o sonoro e estridente cricrilar dos grilos. A Bíblia conta que, após o dilúvio, Deus enviou o arco-íris como forma de aliança, prometendo, não mais castigar seu povo com a grande inundação. A natureza oferece-nos momentos de intensas emoções. Infelizmente, esquecemos delas, ou melhor, as trocamos pela tecnologia. Despertar com o cantar dos pássaros, abrir a janela e notar o brilho diamantino da gota de orvalho numa folha ao sol, não tem o que pague. Bem, tudo que é de graça, encanta. Ninguém paga pelo amor, pela amizade, pelo sorriso, pelo abraço. E são as melhores coisas que podemos dar e receber...
15 de março de 2011 | By: Rita Seda Pinto

A Você,Tiago

A você,Tiago
Rita Seda

Você foi guerreiro da coragem,do amor e da paz. Viveu pouco, mas intensamente. E muito sabiamente. Sendo tão jovem foi capaz de ensinar-nos tanto porque muito amou. E afinal, é o amor que dá sentido à vida, seja ela de muita ou pouca duração. É o amor que toca o coração da gente.
Deus colocou em você a coragem para enfrentar com galhardia a doença que a todos apavora. Foi capaz de fazer brincadeiras até o limite, sofrer sem se desesperar, ensinar o sentimento maior porque ele morava dentro de você. O coração deveria estar como um vidro trincado, prestes a se desfazer em pedaços, vendo sua tão querida, pequena e frágil filhinha, sua esposa, seus pais, avós e demais familiares e amigos que tanto amava, sabendo que a qualquer momento deveria deixá-los, mas encontrava coragem e força para sorrir. Seu semblante foi sempre inundado de amor. Em seus últimos dias, Jesus deve ter projetado fachos de sua luz em seus olhos, para que visse ao mesmo tempo este mundo e já o esplendor do outro, muito mais atraente, pleno da glória de Deus. Acredito que sua luta foi para dar um pouco mais de alento a quem não queria abrir mão de sua companhia, mas quando Jesus estendeu-lhe os braços, não resistiu ao chamado para viver na plenitude do amor de Deus. E foi sorrindo ao seu encontro, levando um pedacinho dos que aqui ficavam, deixando em seu lugar uma enorme saudade. Não podemos dizer que há um vazio, pois o amor que você esbanjou em sua vida, tão breve, deixou lembranças e lições. Hoje sabemos que não há coragem sem amor. Que amor se vive...ou não! Sabemos agora que o amor quebra barreiras, prolonga a vida, sustenta um coração trincado. Que a paz e a união são frutos do amor. Seus gestos foram sempre de pura doação e dedicação, trabalho e carinho, atenção e delicadeza. Confiança e alegria contagiante! Você se foi, e aqui ficou, em tantos, a enorme esperança de ver nascer no firmamento divino mais uma estrela fulgurante: você! Que viveu com autenticidade o único sentimento que realmente dá sentido à vida.Do sacrário misterioso do seu íntimo você o espalhou a todos,até encontrar-se face a face com aquele Jesus que lhe doou o dom do amor e o amou primeiro.
4 de março de 2011 | By: Rita Seda Pinto

Nhá Chica de Baependi

Nhá Chica de Baependi
Rita Seda


Junto com a notícia da beatificação do Papa João Paulo II recebemos outra, também alvissareira: Nhá Chica será beatificada em maio.Teremos uma Beata Mineira!
Vamos conhecer um pouquinho da vida de Nhá Chica. Seu nome é Francisca de Paula Jesus Isabel Nasceu a 26 de abril de 1810, no distrito de São João del Rei, Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno.Foi batizada na Igreja de Santo Antônio, naquela localidade e nós tivemos a graça de conhecer a pia batismal que a fez uma cristã. Foi tudo por acaso, passávamos na estrada e uma placa anunciava o fato. Devotos dela, não poderíamos deixar de visitar o local. Era uma pessoa sem o mínimo conhecimento das letras, Levou uma vida virtuosa, para o trabalho e para Deus, numa casinha humilde, em Baependi. Devota fervorosa de Nossa Senhora da Conceição, com quem tinha a graça de conversar. Daí ter recebido o pedido de construção de uma capela onde a Virgem Maria fosse venerada. Contratou o pedreiro, que lhe fez a relação do material necessário. Com ajuda do povo, que a essa altura já conhecia seus dons excepcionais, pôde comprar os tijolos de adobe. A certa altura da obra o pedreiro lhe disse que o material ia faltar, ao que ela respondeu que a “Dona da Capela” resolveria. Terminada a obra, com o material existente, foi colocado o último tijolo...Não faltou e nem sobrou! Pronta a capela, Nossa Senhora pediu-lhe para comprar um órgão para acompanhar as celebrações. Ela foi falar com o pároco, Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira e só então ficou sabendo que órgão era um instrumento musical. E caríssimo... Recebeu nova orientação de sua Senhora, voltou ao pároco e lhe disse que no Rio de Janeiro, na Rua São José, 73, chegara o órgão que ela deveria comprar. Nova doação do povo e o músico Francisco Raposo, que tem descendentes em nossa cidade, foi incumbido de ir comprá-lo e despachá-lo. Veio de trem até Barra do Pirai,chegando ao destino em carro de boi. Marcado o dia para a sua inauguração, o maestro dedilhou o teclado e...nenhum som saiu. Pensaram todos que fosse efeito do transporte ou tivesse defeito. Logo, Nhá Chica, foi dar uma prozinha com a Virgem Maria e avisou-lhes que a inauguração seria no dia seguinte, às 15 horas.E acrescentou: deveriam cantar a Ladainha. E realmente, deu tudo certo, pelas mãos exímias de seu Francisco Raposo e coro do povo. Conto isso para revelar um pouco da alma simples e confiante de Nhá Chica. Em nossa família temos muitos devotos seus.Começou com minha mãe, que ao chegar ao Brasil pelo porto do Rio de Janeiro, fixou morada, com seus pais e irmãos, em Baependi. Nhá Chica ainda vivia. Faleceu a 14 de junho de 1895, imagino que, entoando a Ladainha e a Salve Rainha! Se Deus o permitir gostaria de presenciar o ato de sua beatificação. Que honra para a filha da Dona Pepa, que a conheceu tão de perto! E certamente para o escritor Paulo Coelho, um de seus inúmeros miraculados.
3 de março de 2011 | By: Rita Seda Pinto

Resgate:Meu filho, meu herói!

Uma distinta dama atrás do volante de uma Pajero prata. Musiquinha ambiente, ninguém para dar palpite, mas, que pena! nem para conversar. Confiante, vai deixando para traz os últimos trechos da Fernão Dias para entrar na Paulicéia. Mudara-se para a capital, mais precisamente para a Vila Mariana, há pouco tempo. Diga-se de passagem que nunca entrara dirigindo assim, tão sozinha, na grande metrópole. Mas coragem não lhe faltava. E a necessidade deu também um empurrãozinho... E lá ia ela, curtindo a musica dos anos 60. De repente surgiu um alerta:-Parece que nunca vi esta rua...Um segundo depois percebeu que estava na rota errada. Estava perdida em São Paulo! Por que ainda não inventaram o GPS? Bom, inventar, inventaram, desde a segunda guerra. Não estão ainda comercializando, né dona? Mas foi rodando, rodando pelo asfalto, já aterrorizada, quando, sem nem perceber, fez uma conversão errada e bem na frente de uns guardas de trânsito. Pensou: tô ferrada! E estava mesmo. Nessa hora já se instalara o pânico. Viu um casal de guardas mais adiante e resolveu parar e pedir ajuda. Muito delicado,com certeza porque percebeu a situação de ansiedade da motorista-este era um profissional que entendia de psicologia- foi perguntando onde ela desejava chegar e quando ouviu a resposta informou que ela estava muito longe de casa... Seu guarda, me ensina o caminho, suplicou. -Daqui não tem nem jeito, minha senhora!-Seu guarda, eu já fiquei perdida no Jardim da Luz quando era criança e vim passear com meus pais em São Paulo. EU TENHO TRAUMA, seu guarda! Chama um táxi para mim, pelamor de Deus!!!- Nisso a comunicação entre guardas se fez e ela ouviu aquela voz estridente do outro lado falando que uma Pajero prata estava cometendo infrações perigosas, verdadeiras loucuras. Ficassem alertas! Fez de conta que não ouviu e foi aí que se deu conta de chamar seu filho pelo celular para vir salvá-la. Foi tiro e queda. O guarda ainda perguntava para quê ela queria o táxi, quando, recuperando a calma, senhora de si, lhe disse: -Meu filho está vindo me socorrer. Desceu do carro e esperou junto dos guardas; acendeu um cigarrinho para descontrair e só chorou quando o filho chegou e a abraçou. - Enquanto enxugava as lágrimas para poder enxergar o trânsito, o guarda ainda a ouviu, pedindo ao rapaz para ir devagar para não perdê-lo de vista...Nesse dia ficou curada do trauma de infância! Santo remédio!
Moral:Trauma de infância só se cura com um drama de adulta!

Verdade X Fofoca

A espécie humana adora uma fofoca. Muitas vezes basta uma palavrinha, um sinal, para que alguém seja denegrido sem que se tenha base verdadeira. E o pior é que a pessoa em questão quase nunca fica sabendo que seu nome está correndo de boca em boca. Nem sua família. Num retiro que tomei parte, há muito tempo, falando-se em fofoca, foi contada uma historinha de uma pessoa que confessou ao sacerdote que havia cometido esse pecado. A penitência adotada pelo confessor era que levasse um travesseiro de penas na torre da igreja e do alto despejasse seu conteúdo. No outro dia, voltasse. Para completar, deveria catar as penas e refazer o travesseiro novamente... Impossível? Também impossível apagar da memória do povo as fofocas proferidas... Não é à toa que temos uma só boca, enquanto olhos e ouvidos temos aos pares. O que vemos e ouvimos, mesmo que provenha de fofoca, devemos guardar para nós mesmos. E se conhecermos a pessoa que é objeto da falação, ou sua família, que tal abrirmos um diálogo esclarecedor? Amizade se demonstra também nesse momento.O AMOR, segundo a primeira carta de São Paulo aos coríntios, em seu capítulo 13, entre outras verdades, diz que o amor é prestativo, não se alegra com a injustiça e fica feliz com a verdade.Ser prestativo nesse caso é esclarecer, é procurar a verdade para que se faça justiça. Em fofocas pode desaparecer toda a probidade da pessoa num piscar de olhos.- Ele(a) fez isso? Não esperava! Parecia tão santo(a)! É por isso que nossa obrigação é pesquisar na fonte. Isso é ser amigo! Repetir a fofoca é espalhar as penas do travesseiro que nunca mais poderão ser recuperadas. Passar a informação pelos crivos das três peneiras. O que está sendo falado é verdade?Sua veracidade é comprovada?Se não é verdade, não adianta passar para frente. O seu conteúdo traz em si a bondade? Se não traz, não fale! É útil para a pessoa em foco ou para a humanidade? Traz algum benefício?Bem, se não tenho certeza que é uma Verdade, que é Bom, e que tem Utilidade, melhor é calar. Este tríplice filtro é atribuído a Sócrates, sábio da Grécia antiga e que professava respeito a todos. Seja dele ou não, o correto é não passar para a frente um comentário, sem filtrá-lo através das três peneiras.

Rita versus Rede

Não sei bem quando me interessei pela Rede Social da Internet. De repente estava eu lá, fazendo muitas amizades, achando bom contatar familiares que residem longe, conversando com pessoas que não via há muito tempo. Ah! As comunidades! Fui selecionando algumas, amando outras, participando de muitas. Tudo muito bom. Mas vieram alguns problemas que me tomavam grande parte do meu tempo, umas amigas se tornaram amigas demais, enviavam compridas mensagens cheias de figuras, música, fui ficando um tanto entediada com tudo aquilo. Havia uma mensagem com musiquinha e a figura de um santo que eu gostava demais. Era a predileta. Às vezes lia todas as que chegavam, às vezes nem todas, às vezes nem lia inteira, deletava tudo, mas “aquela”, eu deixava. Não tirava por nada! Cansei das comunidades, deixei de abri-las. Passei uns dias sem acessar minha página. Foi então que minha filha começou a me pedir que encerrasse minha participação naquela rede. Sua cunhada, que também era minha “amiga” havia lhe telefonado alertando que havia coisa errada: minha página não estava combinando comigo. Que ela desse uma olhadinha nas minhas comunidades!E também nos recados que EU MANDAVA!!! Outras pessoas me alertaram por outros meios de comunicação. Estavam recebendo mensagens minhas que tinham certeza que não ERA EU que enviava. Minha página daquela rede fora invadida; minha privacidade,se algum dia existiu, deixou de existir. Eu nem cheguei a ver o estrago escandaloso inserido na minha página... Eram coisas escabrosas, tinham razão de se preocupar. Minha filha, de seu pc ,em São Paulo, monitorava. Tirava 10, entravam 20. Se era um vírus, com certeza, teria vindo com uma musiquinha e santinhos. O vírus engoliu meu blog também. Será que ele gostou do sabor? Acho que não, pois conseguimos recuperá-lo. A gozação dos familiares foi grande. Do Ivon,nem se fala...O pior (bem, para mim, o melhor!) é que, não tive coragem nem oportunidade para examinar a minha página, assim, muitas vezes não entendia as caçoadas. Acabou. Não tenho mais essa página. Meus amigos que me desculpem, mas tive que deixá-los.A grande verdade é que estamos sendo super vigiados, muitos são roubados e, no meu caso, achincalhada por alguém que usou a Rede.Uma verdadeira faca de dois gumes. Todo cuidado é pouco. Sentí-me uma peteca nas mãos não sei de quem!!! Senhores pais ou responsáveis pelas crianças e adolescentes: fiquem de olho naquilo que eles estão recebendo...e enviando pelas redes. A moral das famílias tornou-se vulneravel, inteiramente desprotegida.

A casa da esquina

Desde quando me lembro, na esquina da minha rua existia aquela casa. Agora não existe mais. Não caiu com deslizamentos ou com alagamentos. Sua solidez e localização não o permitiriam. Caiu sob a ação de máquinas possantes. Não vi sua construção, mas vi sua demolição. Ouvi e li os comentários lamuriosos de quem também viu o fim daquela casa. Ando padecendo para passar pelas suas imediações para chegar ao Santuário. Ficou perigoso, pois ela se situa em duas ruas, as calçadas estão interditadas e temos que nos precaver com os carros motos e bicicletas. Bicicletas?Perguntará você. E eu responderei: Sim, bicicletas não fazem barulho e andam na contramão... São bem mais perigosas do que carros e motos. Bem, mas voltemos à casa branca e linda. Sem igual. De uma beleza delicada, sem ostentação. Uma casa com um vasto andar inferior, na rua em ladeira, que nos foi emprestado muitos anos por seu proprietário para ser o Salão Paroquial, onde fazíamos nossas reuniões de JEC e de JOC, nossas festinhas de final de ano, de primeira Comunhão, de Filhas de Maria e outras que se realizavam antigamente. Enquanto a Igreja Católica não teve um local seu para isso, funcionava ali. Sem nada pagar. Mas Deus deu, com toda certeza, sua recompensa a essas almas generosas. Na casa, quantas pessoas foram recebidas, com carinho, pelos simpáticos donos! Quantas pessoas da família, parentes e amigos ela abrigou... Quantos lanches, almoços, pousos, foram oferecidos ali. Mas não era a linda casa: era a alma bondosa de seus donos, sempre no alpendre, saudando-nos sorridentes quando passávamos. A casa, para mim, era um sinal, uma lembrança daqueles distintos amigos. Eles se foram, agora é a vez da casa também ser levada no turbilhão das máquinas e dos operários. E eu pensava que pela solidez de sua construção ela ainda ficaria em pé por muito tempo... Algumas, mais velhas, continuam sua missão de abrigar pessoas, mesmo sem aquela clássica beleza. Guardamos as boas lembranças de quem ali viveu. Um dia nossa casa também poderá ser destruída, a casa que abriga nossa alma. Será que estamos agindo como os velhos donos da casa branca da esquina? Como se lembrarão de nós os que ficarem?