9 de setembro de 2009 | By: Rita Seda Pinto

Briga de cão(zarrão) com gato preto


A pequena rua era uma anarquia só. A anarquia só não era maior porque o local nem era uma rua...era um beco!
Adultos e crianças gritavam ;o cão latia e o gato parecia eletrizado, os pêlos eriçados. Corria que nem doido, de um lado para o outro perseguido pelo cão e por uma mulher. O trânsito teve que parar na rua onde desembocava o tal beco de tanta gente curiosa que se juntara.... E, é claro, todos torciam pelo bichano e por aquela pobre mulher, enfrentando um cão enorme para salvá-lo. Alguém trouxe uma vassoura, mas esta quebrou, quase que imediatamente. Outro trouxe uma enxada, mas não pensava em acertar o cachorrão com a lâmina, sabia ele quem era o dono? Um animal bonito daquele devia ter um dono que o estimava... Outro trouxe água para espantar o gato. Errou a mão e caiu no cachorro. Só não foi mordido porque o animal estava muito ocupado, mas que recebeu um olhar comprometedor, garanto que recebeu. Foi para casa com a desculpa de guardar a lata dágua e lá ficou, se resguardando. Uma pobre coitada, para ajudar a vizinha, tentou passar-lhe um pedaço de madeira, mas ao fazê-lo levou uma mordida na perna que tirou-lhe um bom pedaço da roupa. Não sei se feriu a perna, mas pelo menos arranhar deve ter arranhado. Essa também , nocauteada pelo cão ,foi para casa, onde, além do mais recebeu uma reprimenda do marido que achava um verdadeiro absurdo entrar em briga de gato e cachorro...
O gato, embora pequeno, parecia um saci, enfrentando o cachorro e fugindo da mulher que queria salvá-lo . Não lhe dava a mínima . Só tinha olhos ouvidos , dentes e pernas para a briga.
Que estava interessante ,estava .Pelo menos era algo fora do comum naquele pedaço de chão onde quase nada acontecia durante o dia. À noite, aí a coisa já é diferente... O próprio nome do beco era efeito dos acontecimentos noturnos: beco do beijo. Mas, são passados tantos anos...Agora o nome até que merecia ser trocado, pois, quem se contentava em ir para o beco beijar?
Ora! Estou desviando o assunto e o assunto é a briga. E briga relâmpago : tudo passou em poucos minutos. A pobre mulher, suada, descabelada e vermelha, não conseguia pegar o gatinho e este já atingira o inimigo num olho, que sangrava. Mais enfurecido e, quem sabe? humilhado, ficou .o cão. Já nem latia, apenas atacava com a boca enorme, cheia de dentes da qual pendia uma língua arroxeada e enorme..
Foi então que uma garota de uns seis aninhos abriu uma janela da casa defronte e gritou bem alto:
_Mamãe, pra que você quer esse gato?
A pobre, esbaforida, olha para sua filha e a vê com o gatinho preto nos braços, toda tranqüila. Para a mãe deve ter sido um alívio, mas sua cara demonstrava muito mais espanto do que qualquer outra coisa.
Apenas disse, sem se dirigir a ninguém:
_Ué, este não é o meu gato, então!!!
E saiu cabisbaixa para sua casa.
Parece que a dona do espetáculo era ela, pois o gato aproveitou a brecha e pulou um muro e o cachorro, sem mais nada para fazer ali , botou o rabo entre as pernas e sumiu.

Agapantos

Agapantos

Só tinhas folhas...
Bastou uma chuva
(E nem foi tão farta...)
Para que tu, meu caro agapanto,
Fizesses irromper das entranhas
Teu botão elegante,
Parecido a uma lança,
Que num instante cresceu,
Doidinho está para se abrir
Em minúsculas florinhas
Roxas, azuis ou brancas...
Pra encantar o jardim.

Sem nenhum esforço teu,
Sem ajuda de ninguém,
Sem soprarem-te ao ouvido:
“é hora”! o milagre aconteceu...
Às vezes quedo-me assim
Observando a natureza
E o ritmo que Deus lhe deu.
A seu tempo tudo é vida,
Beleza, arte, esplendor.
Apenas isso não ocorre
Quando o homem, inconseqüente,
Põe seu dedinho ali...

Rita Sêda Pinto 14/10/2001