28 de fevereiro de 2013 | By: Rita Seda Pinto

Cristal trincado:confiança abalada

Confiança abalada


Rita Seda



Confiar é tão bom! E precisamos confiar. Nos amigos, nos superiores, naqueles que são próximos de nós. Deve ser horrível viver vigiando para que não nos façam mal. Viver com medo de emboscadas. Viver sem ter alguém a quem possamos desabafar sentimentos. E mesmo que não seja preciso, como faz bem saber que podemos confiar em alguém... Podermos abrir o nosso coração e falar o que vai dentro dele! Triste é quando a confiança é traída. É como se fosse um cristalzinho que estala e trinca. Não se espatifa, mas não é mais o mesmo. Alguém que estava lutando para fazer um bem acreditou que podia ter a ajuda de um amigo e foi por este traído. Bem, não pode ser chamado amigo. Amigo não trai. As conseqüências foram desalentadoras. Assim como aconteceu com tantos personagens que conhecemos na história do mundo. Uns morreram, como Jesus Cristo, como Tiradentes, outros foram presos, outros espancados, torturados, ameaçados. Nem todos tiveram a mesma reação. Muitos, de coração especial, perdoaram imediatamente. Outros, nunca puderam perdoar. O desta narrativa tenta, deseja perdoar por completo, mas percebe que não chegou a hora. Sofre com isso, mas quando encontra aquele que o fez sofrer, sente a revolta e não consegue encará-lo, nem para bronquear. Se conseguisse gritar-lhe sua mágoa não sofreria esse desejo imenso de perdoar e não conseguir. Ele tem a impressão que se explodir, explodirá também aquele cristalzinho que está apenas trincado e depois disso não confiará em mais ninguém... Quanto mal costuma fazer a pessoa que não raciocina com equilíbrio. Os interesses cegam as pessoas e mesmo sabendo que estão cometendo injustiça têm prazer em ver o circo pegar fogo. E temos razão de pensar que só em Deus pode e deve estar nossa confiança.

13 de dezembro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Erudita ou regional...

Erudita ou Regional do Nordeste...tudo é arte!


Rita Seda



Tive a grande alegria de ver o show de André Rieu e Orquestra em São Paulo. Isso, para mim, foi verdadeira graça de Deus. Uma vez tentei comprar ingressos para seu show que estava sendo divulgado pela TV. Ainda bem que não consegui! Era em Paris e eu, onde estava? Em Santa Rita, a doce terra natal... Mas desta vez não bobeei. Ano passado, assim que soube do evento, já escolhemos os lugares e compramos os ingressos. Já era fã, conhecia pelos meios de comunicação e de CDs, mas pessoalmente é outra coisa! Ele e sua orquestra têm um magnetismo especial. É um espetáculo deslumbrante pela beleza do repertório e também do visual das instrumentistas (desculpem os homens, pois têm pouca opção, no fim ficam todos com aparência igual...). Já as moças, vestidas à antiga, o efeito encanta. Fazem parte da orquestra duas brasileiras, ambas soprano, Carmem Monarca, de São Paulo e Daniela, de Belém do Pará. O show, quase inteirinho é realizado no ritmo leve das valsas vienenses, aparecendo de vez em quando alguma música,do país onde tocam, aqui foram “Manhã de Carnaval”, Tico-tico no fubá, Aquarela do Brasil e surpresa!: “Ai se eu te pego, ai se eu te agarro” para homenagear o público. Bem, lavei a alma! No dia seguinte conheci a “secretária” da minha filha. Procurei aproximar-me dela e perguntei-lhe de onde era. Ficou encabulada por um instante, mas respondeu-me: “-Eu sou de uma cidade tão pequenina, tão sem importância...Fica em Pernambuco. Até seu nome é singelo: EXU.” Espantou-se com minha admiração. Sabia que sua terra tem um filho chamado Luis Gonzaga, mas isso não significava nada para ela. Ai, 17 anos! Fui cravando-a de perguntas sobre o que a sua cidade guarda de Gonzagão e expliquei-lhe a admiração que tenho por ele, e seu valor para a música brasileira. Ela me olhava espantada, não sabia que era assim... Foi bom, consegui mostrar a uma autêntica conterrânea de Luis Gonzaga, a importância desse ícone nacional, que valorizou a música do nordeste, deu lugar de destaque ao acordeom e ficou conhecido no Brasil inteiro. Tenho certeza que ao perguntarem onde nasceu, de agora em diante, ela terá muito orgulho em dizer:” -Sou de EXU, a terra de Luis Gonzaga.Aquele que compôs Asa Branca, Xote das meninas,Pau de arara, Assum Preto,Qui nem jiló, Baião e tantas outras!Na minha terra tem o museu com lembranças dele, a casa de seus pais e sua casinha...” Agora ela sabe! Despertei nela até a vontade de voltar para lá!

Música é isso: encantamento e empolgação!



13 de novembro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Praça Santa Rita (Reminiscências...)

Reminiscências da Praça Sta.Rita


Rita Seda





Os que nasceram nas últimas décadas andam reclamando das muitas mudanças em nossa cidade, não gostam do que estão vendo. Como será que as vê quem vem de muitas décadas, sempre residiu aqui, e acompanhou as transformações pelas quais passou? Conto alguns fatos, mas deixo bem claro que os mesmos não me abalam, pois o progresso transforma, mesmo, queiramos ou não, gostemos ou não. Cada tempo tem o seu jeito de ser. A nossa praça era pequena, um jardim bem cuidado, com buxinhos (aquela planta redonda que plantaram em frente da Caixa Econômica) plantados em formação, como soldados, cortados baixinho, fazendo uma divisão da calçada interna do jardim e da calçada externa. Nessa calçada interna a moçada fazia seu footing. Os homens andavam em uma direção e as mulheres na outra. Assim se dava o flerte, que era simplesmente “um olhar mais demorado, interessado”... Quantos namoros começaram ali! Na calçada externa formavam-se grupinhos de pessoas, (muitas vezes os pais, de olho em suas meninas), e havia os que preferiam caminhar ali. Ainda existiam as famosas e polêmicas 4 casas, com seus janelões, constantemente ocupados por olhares curiosos. No Prédio do Cinema havia um serviço de alto falante que funcionava até o começo da exibição do filme. Além de fazer propagandas das casas comerciais, tocava músicas, assim como faz hoje o programa da Katia Kersul, mas sempre oferecidas por namorados ou interessados em começar um romance! Músicas de filmes, boleros, fox trotes, tangos argentinos, sambas e chorinhos, faziam a delícia das mocinhas, que naquele tempo não tinham a afoiteza de fazer o oferecimento: uma proeza impossível para os costumes interioranos. O jardim da praça era muito bem iluminado, não tinha árvores frondosas como as de agora, provocando escurinhos, não... Após as 8 horas o silêncio só era interrompido pelas conversas de grupos maiores, quase todos iam para o cinema. Barulho de carros? Se tinha uma dúzia na cidade era o bastante...Moto? Só a do Sr. Zé da Silva, e ele, parece que à noite, só saía de carro. Comprava-se umas balas, chicletes,cigarrinhos de chocolate ou picolé no Bar do Sr.Júlio e o footing ia se acabando, às 9 horas a praça se esvaziava da juventude, especialmente a feminina. Era o nosso passa-tempo, noite após noite.A gente só deixava de ir se chovia, na semana das provas ou se estava de castigo! E como a ficava amuada... Acompanhamos o crescer da praça, uns monumentos retirados, outros colocados, uma nova fonte (graças a Deus que se manteve a atual), o cinema não tem mais projeção de filmes e muito menos o serviço de alto-falante; casas foram demolidas, apesar das reclamações em massa, a Igreja Matriz foi reformada e agora é Santuário. Para nós, mais idosos, triste mesmo foi o avanço dos costumes. Mas, quem é capaz de parar o tempo e sua mania de progresso e mudança?

17 de outubro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Cerco da Misericórdia

Cerco da misericórdia




Sempre que havia o Cerco de Jericó em Pouso Alegre ou em Varginha, duas cidades que eu sempre visitava, procurava participar e tinha vontade que houvesse em nossa cidade. Para nossa felicidade em 1999 tivemos o primeiro, realizado na Igreja de São Benedito. Como isso aconteceu? Juliana, filha de Manoel Vitorino e Maria Lucia tinha paixão pelo Santíssimo Sacramento. Menina dotada de virtudes especiais, em sua cadeira de rodas, ia à capela da ETE e ali ficava horas e horas diante do Santíssimo. Uma alma boa, não tenho certeza quem foi, até mandou fazer uma rampa com o objetivo de facilitar seu acesso à capela. Ela sempre pensando em realizar o Cerco... Seus pais, irmãs e amigos apoiavam. O Pároco concedeu a licença e tivemos nosso primeiro Cerco de Jericó. Eu tinha um livro com muitas orientações, inclusive contando que o papa João Paulo II via, com tristeza, baldados seus esforços para visitar sua terra natal, a Polônia. Seus compatriotas tiveram a idéia magnífica de fazer o Cerco de Jericó nessa intenção e, milagrosamente, o Papa conseguiu a autorização durante esse Cerco. Não tenho bem certeza de quantos, nós fizemos com esse nome, só sei que um sacerdote de Campinas, Luiz Cechinato, escreveu um livreto em que o Cerco passou a ser da Misericórdia e não de Jericó. E nós o adotamos. De qualquer maneira as barreiras vão caindo, o povo está rezando, conseguindo graças e bênçãos para si e para nossa cidade. Juliana, lá do Céu, deve estar louvando e glorificando o seu e nosso Senhor, vibrando de alegria por ver seu sonho perpetuado. Em nosso Santuário, Jesus Eucarístico está sendo adorado desde o dia 14, sem interrupção. Lindas e abundantes flores vão aparecendo para testemunhar e enfeitar nosso amor. Cantos e orações, silêncio e adoração. Jesus Sacramentado, que conheces profundamente a cada um de nós, aceite nosso louvor e nossa gratidão. Atendei nossos pedidos, se assim o merecermos! Obrigada!

5 de outubro de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Talha São João

Talha São João


Rita Seda



Se eu vejo uma talha São João, aquela de cerâmica, com a figura do Santo, vela purificadora na parte superior, lembro-me de Maria Augusta. Faz parte da minha vida de vicentina. Nossa conferência dava assistência à sua mãe, numa das casinhas da Vila Vicentina. A velha senhora vivia acamada,naquele tempo ainda não havia aposentadoria como hoje, ela dependia de nós para a alimentação, remédios, roupas. Tendo diversos filhos, mas sem condição financeira também, não deixavam faltar o mais importante, que é a presença, o carinho e respeito. Sempre havia algum tomando conta dela. Maria Augusta trabalhava em São Paulo, era solteira, assim que se aposentou decidiu que era hora de vir para cá e cuidar da mãe, o que fez até o fim. Aos outros irmãos, ficaram as visitas. Sendo que ela também foi perdendo as forças, seu irmão construiu uma casinha nos fundos da sua, para que morasse. Continuamos a visitá-la. Era doente, mas, acostumada com os trabalhos na capital, numa firma de eventos, era caprichosa com seus pertences. O fogão vivia coberto com protetores especiais de papel alumínio, nenhum outro o igualava em limpeza. Não se via uma poeirinha em seus poucos pertences. Os panos de prato eram os mais brancos possível. As panelas brilhavam. Naquela casa tudo exalava perfume. Tinha um modo especial de fazer seu arroz. Nunca comia na casa dos outros, embora sozinha, sempre fazia seu alimento. Não abria mão de carne, frutas e verduras. Um vendedor de horti-fruti ia, semanalmente, surtir sua geladeira. Muitas vezes nos esperou com um gostoso arroz doce. Não saía à rua, a não ser para cuidar da saúde. Uma senhora fazia a caridade de receber sua aposentadoria. Se a casa era organizada, o mesmo acontecia com seus vasos de flor. Orquídeas, avencas, rosas, samambaias e malvas coexistiam, harmoniosamente, na beira da casa... Além de levar-lhe a Palavra de Deus e rezar com ela, nossa missão consistia em levá-la ao médico, fisioterapia, comprar seus remédios, que quase nunca pagávamos. Fazia questão de pagá-los. Quando precisou fazer fisioterapia no Asilo Ivon era o seu motorista. Nisto ocorria algo engraçado: ele sempre teve a Belina e um carro melhor. Se acontecesse um problema no carro melhor e ele aparecesse de Belina ela reclamava. Gostava do carro confortável. Nós achávamos graça! Era toda coração. Se elogiássemos uma flor, plantava a muda numa lata e nos dava. Se ganhasse alguma fruta, queria que experimentássemos. Não sei bem quem ali era socorrida. Se ela ou nós. Formou-se um elo de amizade tão forte que envolveu toda sua família. Após sua morte, continuamos o contato e continuamos a socorrê-los quando acontece precisar, até hoje. A talha? Ah! Era seu único luxo. Se achasse que precisava trocá-la só aceitava substituir pela mesma marca. Virava um bicho se levássemos outra. E tanto a lavava e esfregava que a desgastava bem depressa... Saudades, Maria Augusta! Pede a Deus por nós!