Quem conheceu dona Pepa?
Rita Seda
Este era o apelido da minha saudosa mãe. Não havia quem não a conhecesse na cidade. Muito trabalhadora e religiosa, mãe e esposa exemplar, trouxe no sangue um caráter corretíssimo, mas era muito exigente, sendo por isso considerada brava. Tinha um enorme e bondoso coração. Tinha um grande amor pela família e pelos pobres, que naquele tempo cumpriam o triste ritual de esmolar de casa em casa, ela reservava seus “trocados” para dar-lhes e ainda colaborava com mantimentos. Ela e eles eram grandes amigos, sempre trocavam um dedo de prosa. O nome com que minha mãe foi batizada é muito bonito, poético até: Francesca Giuseppa Grazia Patta. Chegou, como imigrante italiana, no Rio de Janeiro, aos 10 anos, com seus pais e irmãos, um deles nascido no navio Colombo, em que viajavam. Entristece-me pensar no pouco valor dado aos imigrantes. A família de mamãe, original de Samugheo, Oristano, na Sardenha, possuía um sítio,deixou tudo para vir formar lavouras de café para os coronéis brasileiros. Como teriam sido recrutados para a imigração e com que promessas? Os dois governos devem ter manipulado esse pobre povo com muita lábia! Será que ofereceram terras, ajuda material, dinheiro, para começarem a vida no novo país? Os meus não ganharam nada, trabalharam para os coronéis, aumentaram a fortuna dos mesmos...Mamãe e papai vieram no mesmo navio e cada um foi para uma cidade, encontrando-se depois e casando-se. Sendo eu a última dos filhos, não presenciei a trabalheira deles,mas fiquei sabendo. Meu pai morreu cedo e ficou minha mãe com a sua fama de brava. Realmente foi brava, mas eu testemunho a bondade de seu coração e imagino os motivos para sua braveza: doenças, trabalhos, filharada para cuidar e a saudade de sua terra. Letícia gostava tanto de sua avó que queria colocar seu nome, (Josefa) na sua filha Patrícia, se nascesse no dia de São José. Mas nasceu no dia de São Patrício... Se vocês, minhas netas, sobrinhas-netas ou primas, forem chamadas de Pepinha, não se aborreçam, pelo contrário, orgulhem-se! Ela foi brava mas nunca foi ruim, teve o maior amor para doar a Deus, à família e aos irmãos.Sua vida foi heróica!Quando estivemos na Itália vimos subir no ônibus em que estávamos, uma senhora igualzinha minha mamãe.Falava com as mãos, com aquela voz vigorosa, vestia-se de roupa comprida e chale, vi então o por quê do estilo da minha mãe...Ela trouxe isso no sangue! Que saudades tivemos naquele dia! Valeu a viagem inteira...Entendi um pouquinho mais dela!
Rita Seda
Este era o apelido da minha saudosa mãe. Não havia quem não a conhecesse na cidade. Muito trabalhadora e religiosa, mãe e esposa exemplar, trouxe no sangue um caráter corretíssimo, mas era muito exigente, sendo por isso considerada brava. Tinha um enorme e bondoso coração. Tinha um grande amor pela família e pelos pobres, que naquele tempo cumpriam o triste ritual de esmolar de casa em casa, ela reservava seus “trocados” para dar-lhes e ainda colaborava com mantimentos. Ela e eles eram grandes amigos, sempre trocavam um dedo de prosa. O nome com que minha mãe foi batizada é muito bonito, poético até: Francesca Giuseppa Grazia Patta. Chegou, como imigrante italiana, no Rio de Janeiro, aos 10 anos, com seus pais e irmãos, um deles nascido no navio Colombo, em que viajavam. Entristece-me pensar no pouco valor dado aos imigrantes. A família de mamãe, original de Samugheo, Oristano, na Sardenha, possuía um sítio,deixou tudo para vir formar lavouras de café para os coronéis brasileiros. Como teriam sido recrutados para a imigração e com que promessas? Os dois governos devem ter manipulado esse pobre povo com muita lábia! Será que ofereceram terras, ajuda material, dinheiro, para começarem a vida no novo país? Os meus não ganharam nada, trabalharam para os coronéis, aumentaram a fortuna dos mesmos...Mamãe e papai vieram no mesmo navio e cada um foi para uma cidade, encontrando-se depois e casando-se. Sendo eu a última dos filhos, não presenciei a trabalheira deles,mas fiquei sabendo. Meu pai morreu cedo e ficou minha mãe com a sua fama de brava. Realmente foi brava, mas eu testemunho a bondade de seu coração e imagino os motivos para sua braveza: doenças, trabalhos, filharada para cuidar e a saudade de sua terra. Letícia gostava tanto de sua avó que queria colocar seu nome, (Josefa) na sua filha Patrícia, se nascesse no dia de São José. Mas nasceu no dia de São Patrício... Se vocês, minhas netas, sobrinhas-netas ou primas, forem chamadas de Pepinha, não se aborreçam, pelo contrário, orgulhem-se! Ela foi brava mas nunca foi ruim, teve o maior amor para doar a Deus, à família e aos irmãos.Sua vida foi heróica!Quando estivemos na Itália vimos subir no ônibus em que estávamos, uma senhora igualzinha minha mamãe.Falava com as mãos, com aquela voz vigorosa, vestia-se de roupa comprida e chale, vi então o por quê do estilo da minha mãe...Ela trouxe isso no sangue! Que saudades tivemos naquele dia! Valeu a viagem inteira...Entendi um pouquinho mais dela!