25 de julho de 2012 | By: Rita Seda Pinto

Dona Pepa

Quem conheceu dona Pepa?


Rita Seda



Este era o apelido da minha saudosa mãe. Não havia quem não a conhecesse na cidade. Muito trabalhadora e religiosa, mãe e esposa exemplar, trouxe no sangue um caráter corretíssimo, mas era muito exigente, sendo por isso considerada brava. Tinha um enorme e bondoso coração. Tinha um grande amor pela família e pelos pobres, que naquele tempo cumpriam o triste ritual de esmolar de casa em casa, ela reservava seus “trocados” para dar-lhes e ainda colaborava com mantimentos. Ela e eles eram grandes amigos, sempre trocavam um dedo de prosa. O nome com que minha mãe foi batizada é muito bonito, poético até: Francesca Giuseppa Grazia Patta. Chegou, como imigrante italiana, no Rio de Janeiro, aos 10 anos, com seus pais e irmãos, um deles nascido no navio Colombo, em que viajavam. Entristece-me pensar no pouco valor dado aos imigrantes. A família de mamãe, original de Samugheo, Oristano, na Sardenha, possuía um sítio,deixou tudo para vir formar lavouras de café para os coronéis brasileiros. Como teriam sido recrutados para a imigração e com que promessas? Os dois governos devem ter manipulado esse pobre povo com muita lábia! Será que ofereceram terras, ajuda material, dinheiro, para começarem a vida no novo país? Os meus não ganharam nada, trabalharam para os coronéis, aumentaram a fortuna dos mesmos...Mamãe e papai vieram no mesmo navio e cada um foi para uma cidade, encontrando-se depois e casando-se. Sendo eu a última dos filhos, não presenciei a trabalheira deles,mas fiquei sabendo. Meu pai morreu cedo e ficou minha mãe com a sua fama de brava. Realmente foi brava, mas eu testemunho a bondade de seu coração e imagino os motivos para sua braveza: doenças, trabalhos, filharada para cuidar e a saudade de sua terra. Letícia gostava tanto de sua avó que queria colocar seu nome, (Josefa) na sua filha Patrícia, se nascesse no dia de São José. Mas nasceu no dia de São Patrício... Se vocês, minhas netas, sobrinhas-netas ou primas, forem chamadas de Pepinha, não se aborreçam, pelo contrário, orgulhem-se! Ela foi brava mas nunca foi ruim, teve o maior amor para doar a Deus, à família e aos irmãos.Sua vida foi heróica!Quando estivemos na Itália vimos subir no ônibus em que estávamos, uma senhora igualzinha minha mamãe.Falava com as mãos, com aquela voz vigorosa, vestia-se de roupa comprida e chale, vi então o por quê do estilo da minha mãe...Ela trouxe isso no sangue! Que saudades tivemos naquele dia! Valeu a viagem inteira...Entendi um pouquinho mais dela!

coisas de ciume entre casais

Coisas de ciume entre casal (2012)

Rita Seda



Que figura estranha é aquela, perto da fonte luminosa, na praça da cidade, rodeada de moleques que procuram arrancar-lhe o saco de estopa que cobre sua cabeça e um pedaço do corpo? É homem ou mulher? Veste calças compridas, mas o disfarce impede de percebermos seu sexo. Luta com os moleques que puxam, cutucam, empurram, até os buracos do saco que ficavam diante dos olhos para orientar sua direção já nem se sabe onde estão... Mas eis que um policial surge para verificar o motivo da baderna e os moleques fogem. Como todo disfarce é valido nos dias carnavalescos, deixa a figura grotesca em paz e ela aproveita, “Ufa, não contava com isso!”, vai para um lugar mais isolado e tira o saco, jogando-o atrás de um banco de jardim.- “Escapei por pouco, diz a senhora”. Sim! Era uma senhora de meia idade, mãe de meia dúzia de filhos, que estava desconfiada de traição por parte de seu esposo e queria verificar. Nada viu, pois pouco tempo esteve disfarçada. Agora estava cansada e só queria voltar para sua casa, onde já se acostumara a ficar longas horas, sozinha com as crianças, às vezes, até a noite inteira. Não demorou para que descobrisse, era verdade. E a “outra”morava bem perto de sua casa... Passou a viver um inferno, brigas e mais brigas, expulsou o esposo da cama de casal e colocava dois, três filhos para dormir com ela. E ainda escorava a porta do quarto.” –Você quis? Fique com ela!” Mas nunca mais foi feliz. Tinha um bom emprego federal, não dependia do esposo, criou os filhos, mas ao casar a filha única, fez uma viagem e por lá deu fim na vida, ingerindo um vidro inteiro de antidepressivos. O viúvo? Passou a viver abertamente com a outra, criou o filho que com ela teve e que é reconhecido como irmão pelos outros filhos, normalmente. E na praça, com carnaval ou sem carnaval, a fonte continua a fazer suas coreografias de águas, com movimentos e cores, indiferente aos problemas de quem está por perto...


Cientistas e invenções

Cientistas e invenções


Rita Seda



As invenções acontecem, quase sempre, por acaso. Adams queria inventar uma borracha e acabou inventando o chiclete.

Um cientista europeu estava trabalhando em seu laboratório.

Cansado, saiu para caminhar e tomar um ar puro. Em seu caminhar pela estradinha cheia de mato, um “amor seco” agarrou na barra de sua calça. Foi o que bastou para que ele inventasse aquelas duas tiras aderentes que usamos para fechar bolsos, sacolas, bolsas, carteiras, etc. E onde ele estava era raríssimo esse tipo de vegetação, e que para nós é abundante. Dá até raiva de tantas que agarram em nossa roupa. Por que não foi inventada por um brasileiro? Eu ou você?

Alguns insucessos deram, por sua vez, início a invenções. Alguns cientistas, em 1992, tentavam descobrir um remédio contra a angina. Não deu certo, mas os homens da aldeia galesa que faziam o teste se recusaram a parar de tomá-lo... Bom para os cientistas que começaram a vender o remédio, batizado de Viagra, para tratar um outro problema e bem diferente!

Muito conhecida é a descoberta da Penicilina, por Fleming, que ao fazer experiências com bactérias, tirou férias, mas esqueceu no laboratório uma lâmina suja. Ao voltar viu que as bactérias tinham tomado conta da lâmina, menos na área em que havia

mofo. O desleixo em esquecer de lavar uma lâmina teve duas conseqüências: a penicilina e o contrato de alguém para fazer a faxina...

Estou certa de que muitos dos meus queridos amigos já fizeram descobertas sensacionais. Eu posso garantir que ao deixar de graduar uma geladeira inventei o picolé de alface! Ao errar numa carreira de tricô inventei um ponto novo! Ao esquecer de colocar um ingrediente num bolo, inventei nova receita. Nem todas as invenções tornam-se úteis, mas se encaradas com humor, fazem um bem ao fígado, garanto que fazem.

Dani

Dani


Rita Seda



Você estava sendo esperada com grande carinho por toda família. Seus dois irmãos, impacientes por vê-la fora da barriga da mamãe já tinham escolhido seu nome... Ainda faltavam algumas semanas para sua chegada, mas recebi um telefonema da sua tia, que estava de férias e fazia companhia para sua mãe. Pedia que eu fosse imediatamente para a casa de seus pais em Varginha, pois algo estava para acontecer. Era verdade. Você resolveu nascer antes do tempo. E pior: com complicações. Seu pulmão se recusava a abrir-se normalmente e mesmo com medicamentos foi um sufoco. Teve que ir direto para a incubadora. Não tinha unhas, cabelos, não abria os olhos e nem chorava... Os pés, gelados, mas os sapatinhos que fiz eram grandes demais! Foi aquele corre-corre!Dr.Fausto fez a cesariana e nos mostrou uma bonequinha dorminhoca. Tomei das agulhas de tricô e toca a fazer mini sapatinhos para aquecer seus pezinhos. E luvinhas também, paletózinhos, tudo que sabia e que você precisava... Colocaram-na em uma estufa na maternidade. Só de vê-la, daquele tamaninho e naquele amarelão eu tinha crises de bronquite! Num só dia eu fiz dez inalações com oxigênio no hospital. Seu tio Ivon Junior, que tanto a ama, ficava por conta do meu transporte, da casa ao hospital e de lá para casa... Um belo dia seu pai resolveu tirá-la da incubadora. Sabe por que? Perguntou à enfermeira como funcionava a aparelhagem e ela disse que quando “ela achava que estava quente demais ela desligava!” Seu pai ficou uma arara. Não sei bem como, mas falou com o médico e levou você para casa. Ele mesmo fez uma incubadora jóia e você foi melhorando. Lembra-se do córrego? Lá eu arrancava pés de picão, fervia e preparava-lhe um banho gostoso, de manhã e à tarde para acabar com o amarelão. A água foi lavando sua cor e nós pudemos curti-la um pouco mais. Dani não chorava, mamava porque sua mamãe punha no peito. Eu até pensei que nunca iria ficar normal. Seus pais eram tão agarrados com você, Dani, que quando enfim pôde sair da estufa não a deixavam dormir no berço. Dormia no meio dos dois, enrolada em muitas mantas. Evitavam que seu corpinho esfriasse... Não a deixavam ficar à noite comigo, mas foram-se esgotando e aconteceu que naquela madrugada eu ouvi um barulho diferente, fui ver o que era e encontrei um grande embrulho de cobertas debaixo da cama deles. Era você! O sono e o cansaço nocautearam os dois e nem viram quando a levei. Tirei um sarro deles! E afinal, está aí essa jovem linda, inteligente e prestativa que encanta a todos. Até fisgou o coração de um leão magrelo, que não morde, não urra, é só doçura! Dani, como eu amo você...Presente de Deus na vida de nossa família...Obrigada, meu Deus, pela bonequinha frágil que nos deste e que agora, além de forte transformou-se numa linda mulher.