20 de janeiro de 2011 | By: Rita Seda Pinto

Mamãe e São Sebastião




Mamãe e São Sebastião

Rita Seda





Quando veio da Itália minha mãe era ainda adolescente. Mas trouxe na bagagem do seu coração a lembrança de muitas tradições de sua terra. Uma delas era a devoção aos santos italianos. Sebastião, Francisco, Antonio formam um trio de santos muito presentes nos nomes dos filhos e dos netos. Não será por simples acaso...

Lembro-me muito bem, ainda criança, caminhava com ela pela Rua da Ponte, entrava na Rua do Queima e parávamos logo no início, diante de uma capelinha minúscula, à beira da calçada. Não me lembro onde ela buscava a chave, mas abria a porta e entrávamos naquele lugar pequenino, que guardava no lugar de honra uma imagem de São Sebastião. Mamãe sempre levava flores, às vezes uma toalha nova com bico de crochê feito por ela e bordada a ponto de cruz pela Laurinha, a eximia bordadeira da família. Pegava seu terço e, fervorosamente, desfiava as contas no que, para mim, pareciam intermináveis ave-marias. Eu não entendia quase nada, mas notava em seu semblante certa aflição, a cada visita. Com o passar do tempo intuí que pedia a São Sebastião ajuda para seu irmão Sebastião –minha mãe tinha loucura pelos seus irmãos! Ainda mais que fazia questão de que os bordados das toalhas fossem feitos pela filha dele, a Laurinha. Nunca lhe perguntei, nem perguntei a ninguém. Apenas imaginação de quem presenciou.

Procurei conhecer a vida desse santo e tornei-me devota dele também. Eis aí um cristão autêntico, preferiu o martírio às honras de capitão do exército de um Imperador que cometia inumeráveis atrocidades contra os cristãos. Em Roma conheci a Catacumba de São Sebastião, se não me falha a memória ficava do lado direito da Via Ápia, enquanto outras se localizavam do outro lado.

Em Varginha, minha filha um dia chamou-me para ir à Igreja do Mártir. Eu entendi Marte! Associei a ET... Mas como existe o Campo de Marte em São Paulo, e porque era Missa, topei. Entrando na bela Igreja é que fui entender que era Mártir, o São Sebastião. Realmente, até pouco tempo, quando ela morava nessa cidade,ouvi muitas pessoas falando da Igreja do Mártir, pois assim é conhecida. Nós também temos a Capela de São Sebastião, cuja comunidade acaba de realizar sua festa. A capela está sendo reconstruída, para melhor atender aos fieis. A festa neste ano foi realizada com carinho especial em casa emprestada ( gesto lindo dos responsáveis pela E.E.Luiz Pinto de Almeida) e com o sacrifício trazido pela cheia do Sapucaí.O mais importante estava no coração do povo:o amor, respeito e devoção a Jesus de quem São Sebastião foi servo fiel. A antiga capelinha da Rua do Queima? Continua lá...provocando saudade!